segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Auto-epitáfio

Inspirado em "Autopsicografia" de Fernando Pessoa



Saio e deixo a carne
com a dor que me morreu
com a dor que não me viveu
com a dor que, de verdade,
é dor.
Saio de acordo
que o poeta é um completo fingidor.

Sai e deixei a carne,
deixei a dor que inventei
que eu próprio recriei.
Só deixei as minhas dores
sob o perfil
de um poeta fingidor.

As rodas da minha vida fingida
se desentenderam com a razão
então saio e deixo a carne
e fica a ficção, convicta
que o poeta que te fez
é um completo fingidor.


domingo, 26 de dezembro de 2010

 Frenesi

Debaixo do meu nevoeiro abstrato
é aonde aclamo por inspiração
no meio daquela confusão sem cor de ideias
que não chegam a existência

É dentro do meu nevoeiro abstrato
que sinto que vivo feliz
é lá que estou inserido de verdade
incluído em meus paradoxos tão reais
e onipresentes

E em cima desse meu nevoeiro abstrato
estão tão firmes meus desenvolvidos versos
que me levam a ineficaz ludidez
ao término da minha viagem,
onde a névoa desaparece.
Ainda não inventei, na verdade

Por onde começo
Ou por onde não termino
A metaforizar
nossa desilusão temática
Amorosa.

A minha desanálise sintática
não tem função a sua digna
classe gramatical

A minha existência biológica
não cede mais ao nosso mundo
células compostas de romance

A minha equação cheia de incógnitas
não se termina e não se iguala
à nossa igualdade interior

A minha originalidade
é resultada do nosso desencontro
da nossa falta de poesia
do nosso amor... que
ainda não inventei, na verdade